4/27/2014

sobre coisas que não interessam a ninguém

A pessoa vai a Portugal de férias e recebe uma sms de uma perfumaria a anunciar 20% de desconto em qualquer compra nos próximos 5 dias. Rita desloca-se alegremente à perfumaria porque tem a pele arrepanhada de seca que está, e quer comprar um creme hidratante simples, de pôr de manhã quando se lembra, já agora com desconto. A pessoa entra na perfumaria e fica a olhar para as centenas de milhares de frascos de banha da cob... de produtos, com preços que vão dos 10 aos 300 euros (really?) e tudo o que quer é um creme simples. Para a pele. Da cara. A menina da perfumaria vê Rita em alvoroço, quase a virar  costas e voltar para o mundo das peles secas de onde veio, e sem delongas oferece os seus conselhos profissionais especializadíssimos para o meu caso, para o teu, e para o dela também. Rita explica que quer um creme. Para a pele. Que está seca. Menina manda sentar numa cadeira com luz, saca da lupa, inspecciona cada milímetro de pele. Pergunta a idade. Está na hora de comprar um creme de noite. E de dia. E um de contorno dos olhos e outro para os lábios.  E olhe que um sérum regenerador também não ia nada mal. Começando a sentir ligeiras comichões entre os dedos, frutos das cantilenas das máximas-de-beleza-ideal-photo-shop-in-a-jar que está a ouvir, Rita levanta-se da cadeira e diz que só quer um creme hidratante. Simples. Barato. Menina volta a perguntar a idade. 29. Já disse. Então é este. No rótulo lê-se anti-age. Eu não quero um anti-age. Mas é por causa das rugas. Eu quero ter rugas. Mas agora é que se começa a prevenir, diz isso porque ainda não tem. Mas eu não as quero prevenir. Eu preocupo-me tanto com rugas como com os melhores sítios para fazer unhas de gel. Quero um creme hidratante. Para a pele seca. Da cara. Simples. Rita abandona a loja e Menina fica a cochichar com a colega da caixa, como se Rita fosse a extra-terreste.  Porque só quer um creme hidratante.

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