No outro dia, a propósito de uma notícia sobre a aparência microscópica dos diversos tipos de lágrimas (vê aqui), alguém me recordou deste poema.
É simples, é lindo, é simplesmente lindo e lindo de tão simples que é.
Lágrima de preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterlizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro
nem vestígios de ógio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão
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